domingo, 28 de junho de 2015

Entrevista com Carlos Omar Villela Gomes

Buenas!
Em nossa primeira prosa, "De Paysano, Para Paysano", temos o prazer de apresentar Carlos Omar Villela Gomes.

Advogado, poeta, compositor, uruguaianense, residente em Jaguari-RS. Integrante efetivo do movimento nativista gaúcho, tem cerca de 500 composições e poesias com registro fonográfico, sendo premiado em diversos eventos, entre eles, Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaiana; O Rio Grande Canta o Cooperativismo; Reponte da Canção, de São Lourenço do Sul; Canto Missioneiro, de Santo Ângelo; Minuano da Canção, de Santa Maria; Gauderiada da Canção, de Rosário do Sul; Grito do Nativismo, de Jaguari; Sapecada da Canção, de Lages-SC; Musicanto Sul Americano de Nativismo, de Santa Rosa; Coxilha Nativista, de Cruz Alta; Carijo da Canção, de Palmeira das Missões;Um Canto para Martin Fierro, de Santana do Livramento; Nevada da Canção, de São Joaquim-SC; Seival da Poesia Gaúcha, de São Lourenço do Sul; Festival de Música Crioula, de Santiago; Sesmaria da Poesia Gaúcha, de Osório; Bivaque da Poesia, de Campo Bom; Tropeada do Verso Sulino, de Caxias do Sul, Pealo da Poesia de Alegrete, Querência da Poesia, de Caxias do Sul, Carreteada da Poesia, de Santa Maria, Garimpo da Poesia, de Soledade, entre vários outros, atuando também como jurado em diversos eventos poético-musicais. Em 1997 recebeu o Troféu Vitória, prêmio concedido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul aos destaques no nativismo, sendo premiado na ocasião como melhor letrista do ano. É vencedor por dois anos consecutivos do Concurso Estadual de escolha da Música-Tema da Semana Farroupilha, promovido pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho e o Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, em 2005 com a composição “Gaúcho Sentimento” e em 2006 com “Tradição de Glória”. Foi vencedor do Carnaval de Uruguaiana como autor do samba enredo da Escola de Samba Unidos da Cova da Onça e vencedor, melhor samba-enredo e melhor compositor de samba no carnaval de Cruz Alta pela Escola de Samba Imperatriz da Zona Norte. Membro da Estância da Poesia Crioula do RS, do Galpão da Poesia Crioula de Santa Maria, da CAPOSM(Casa do Poeta de Santa Maria), da AUL(Academia Uruguaianense de Letras) e ASL(Academia Santa–Mariense de Letras). É integrante da Oficina poético-declamatória Gaúchos Brasileiros. Possui CD com suas composições lançado pela gravadora USA DISCOS. Atualmente está finalizando o CD duplo “Gauchamente Falando”. Recentemente lançou o livro intitulado “Os Dez Mil Poetas”, sendo este projeto, elaborado pela Produtora Cultural Bianca Bergmam, aprovado e financiado integralmente pelo FAC(Fundo de Apoio a Cultura) do Estado do Rio Grande do Sul.

O Blog "De Paysano, Para Paysano", te agradece, Carlos Omar Villela Gomes, pelo carinho, cumplicidade e paciência, ao responder as perguntas. Agradeço à tua sinceridade. Obrigado, ainda, por incentivar e agregar tanto a nossa cultura.

De Paysano, Para Paysano: Onde nasceu? Onde mora?

Carlos Omar Villela Gomes: Nasci em Uruguaiana, Sentinela da Fronteira. Me formei e fui abençoado com meus filhos em Santa Maria, cidade Coração do Rio Grande, onde fui estudar e acabei me aquerenciando. Hoje resido em Jaguari, a Terra das Belezas Naturais.

De Paysano, Para Paysano: Qual a tua maior saudade?

Carlos Omar Villela Gomes: Saudade do meu pai, das minhas avós, dos tempos da inocência. Dos amigos antigos, que se foram. Saudade da minha Uruguaiana. Hoje a cidade continua bela, mas não é mais a minha Uruguaiana. Essa ficou guardada em algum cantinho do tempo. De vez em quando assobia na esquina da minha antiga rua. Mas é uma saudade boa, pois cada momento da vida tem sua beleza e seu encantamento. Se perdi meu pai, minhas avós e alguns bons amigos, a minha mãe Maria Helena, meus irmãos Paulinho e Maria Esther e muitos outros amigos de infância continuam comigo,  firmes e fortes. Hoje tenho meus filhos, Bibiana, Helena e Mariano, benção maior. Tenho a Bianca, meu amor. Somei outros grandes amigos pela estrada. Quem se foi, o tempo que se foi, continua conosco sempre, criando a base do que somos vida a fora. Não choro a saudade, brindo a ela.

De Paysano, Para Paysano: O que te fez começar a escrever? Qual a primeira letra, lembra?

Carlos Omar Villela Gomes: Tenho dois tios, o Vinícius Pitágoras Gomes, já falecido,  e o José Luiz Souza Villela, o Tio Gordo, que são poetas de mãos cheia e já participavam desde a minha infância das antigas Califórnias da Canção. Através deles, incentivado por meus pais, fui pegando gosto pela nossa cultura regional e pela poesia em si. Meu pai, Paulo Tarso Gomes, escrevia muito bem e minha mãe, Maria Helena, que foi a revisora do meu livro,  sempre teve uma sensibilidade ímpar para a poesia. Neste quadro acabei me aquerenciando definitivamente no universo imenso da poesia gaúcha.
Fiz meus primeiros versos quando tinha 11 anos, em um tema de aula, no retorno das férias de verão, contando os dias passados na estância do tio Cezar e da Tia Eleni, pais do grande poeta Rafael Ovídio, o Cabo Deco e do compositor Leandro Gomes, ambos meus primos-irmãos mais irmãos que primos e parceiros poético-musicais desde a infância.
Os versos diziam mais ou menos assim:
“Lá na estância do meu tio
É que eu pesco nos lagoões;
É lá que eu ando nos mouros,
Tordilhos, ruanos, lazões.”
Tem entrada na BR
Pras bandas do Caitoaté;
Se não dá pra ir a cavalo
Eu vou andando, de a pé!”
Pois é, de lá pra cá já somei 33 anos de verso e 44 de vida.

De Paysano, Para Paysano: Tua maior influência?

Carlos Omar Villela Gomes: Seria injusto definir uma única influência. Posso citar as que considero principais. Meus tios José Luiz Villela e Vinícius Pitágoras Gomes, meu pai, Paulo Tarso, Antônio Augusto Ferreira, que  foi o primeiro poeta fora da família a acreditar na minha arte. Colmar Duarte e Mauro Marques, mestres e amigos. Poderia citar vários outros de grande porte. Jaime Vaz Brasil, Sílvio Genro, Moisés Menezes, Jaime Brum Carlos, Miguel Bicca, Nenito Sarturi. Dos da nova geração, Rodrigo Bauer, Gujo Teixeira, Guilherme Collares, Juarez Machado de Farias, Rômulo Chaves. Influências boas que vão se somando pela vida, pois estamos em constante aprendizado e aprimoramento.  Sem citar os esteios da nossa poesia, Aureliano, Rillo, Jaime Caetano, Juca Ruivo. É longa a lista.

De Paysano, Para Paysano: O que mais fala sobre ti? Por que? Um verso de autoria tua ou não, que fale de ti.

Carlos Omar Villela Gomes: Tenho uma base familiar muito sólida e isso repasso na relação com meus filhos e meu amor. Na profissão, advocacia, sou objetivo e racional, mas na vida e na arte sou um ser emocional. A sensibilidade é minha bênção e meu calcanhar de Aquiles, mas creio ser o melhor caminho. Sofro muito perante as injustiças, aberrações, opressões, preconceitos e ódios que existem pelo mundo e frequentemente nos afogam de trevas pelas redes sociais. Sou um cidadão que acredita piamente na fraternidade e no poder transformador da arte. A arte tem o condão de sensibilizar as pessoas, e os corações sensibilizados certamente reagem melhor frente às máculas e barbáries da nossa sociedade, que por serem tão comuns e constantes acabam sendo banalizadas, pois de tanta dor, nossos corações se embrutecem e congelam. A arte derrete esse gelo e humaniza os seres humanos, que começam a enxergar e a reagir em prol do bem. Esse é o grande sentido da arte. Combater as chagas e defender os bons sentimentos e causas. Talvez o conjunto do que escrevo e as bandeiras que defendo me definam.
Uma vez o poeta Ramirez Monteiro me viu emocionado em um evento e escreveu “ Quando o Poeta Chora de Felicidade”. Talvez também seja uma noção do que sinto com relação à sensibilização que a arte nos presenteia.

De Paysano, Para Paysano: Tua melhor letra, a que tens o maior carinho? (Mandar a letra, se possível)
Carlos Omar Villela Gomes: Não tenho como definir uma letra ou poesia como melhor ou objeto de carinho maior,  pois todas são que nem filhos e muitas nasceram de forma diferenciada. Posso, talvez, compartilhar uma letra, que pode não ser a mais rica, a mais elaborada, mas pela forma como foi feita, talvez represente bem o que considero de mais sagrado na poesia: A Inspiração. Esses versos desceram em poucos minutos em um festival fechado, o Canto do Jaguar, primeiro do gênero a abrir as portas para a participação feminina, cujo tema foi “Mulher”. Foi certamente um momento espiritual e foi musicada da merma forma pelo meu irmão Nilton Ferreira: NA PAZ E NA DOR.

NA PAZ E NA DOR
No começo não te vi...
Talvez surgindo do nada
Por uma trilha encantada
Aos poucos apareci.
Flutuei num berço quente,
Num mundo dentro de ti...
Ventre de paz, simplesmente,
Até que um dia, nasci.

Chorei meu primeiro pranto,
Respirei meu próprio ar...
Me alimentei no teu seio,
Me aconcheguei no teu lar.
Abri meus olhos pra vida,
Pleno de luz e esperança...
Te vi mãe, anjo da guarda,
Com meu olhar de criança.

Te vi avó, protetora,
Com nossos planos secretos...
Talvez um doce escondido
Pra o meu sorriso de neto.
A vida seguiu de manso,
Me levaste pela mão...
Até que, não mais criança,
Um dia te vi paixão.

E quantas vezes te vi
Sob um olhar encantado...
Num rosto doce de moça
Te vi ternura e pecado.
E quantas vezes senti
E escrevi no papel,
Que nos teus olhos eu vi
Um anjo longe do céu.

Te vi em forma de um sonho
De sonhar a vida inteira...
Trocamos almas e alianças,
Então te vi companheira.
E te abracei mansamente
Pela mais linda das trilhas,
Até que um dia de inverno
Te vi em forma de filha.

O tempo encurta os caminhos
Com suas asas abertas...
Até que um dia, velhinho,
Te vi num rosto de neta.
Te vi com vários olhares,
Te vi na paz e na dor...
Mas sempre te vi mulher,
Mas sempre te vi amor!

De Paysano, Para Paysano: Qual pensamento que teve quando escreveu?

Carlos Omar Villela Gomes: Não houve qualquer pensamento, qualquer neurônio envolvido. Ela simplesmente aconteceu. Define a inspiração em sua forma mais pura, por isso é especialíssima.

De Paysano, Para Paysano: O que acha dos nossos festivais? Teus melhores amigos (dentro da música)?

Carlos Omar Villela Gomes: Entendo que os festivais são um celeiro inesgotável de criação poético-musical e a maior vitrine que temos dentro do nativismo. Sou grato aos festivais por tudo o que já proporcionaram e proporcionam ao nosso cancioneiro. Agora, eles devem ser encarados como um meio de divulgação e não como o objetivo final da arte, que é imensamente maior que qualquer competição, por mais sadia que seja. O Érlon Péricles brinca que sou o último romântico dos festivais. Tenho certeza que não, mas ao certo sou um deles. Que Deus nunca me prive de versejar com amor e paixão.
Quanto aos amigos de verdade, os grandes e verdadeiros amigos, graças a Deus, se eu começar a elencar, talvez passe o dia escrevendo e ainda faltará gente muito especial. A amizade é o grande patrimônio que ganhei na jornada da arte.

De Paysano, Para Paysano: Foi difícil entrar no meio da música?

Carlos Omar Villela Gomes: Na verdade as coisas aconteceram de uma forma casual. Apesar de ter ligação como nativismo desde piá, através dos meus tios e das primeiras Califórnias, nunca tive o interesse objetivo de participar dos eventos de forma profissional. Quando piá eu esboçava algumas canções com os meus primos Rafael Ovídio e Leandro Gomes. Fiz algumas melodia até, com as três notas que sabia no violão. O primeiro compositor a musicar e gravar uma letra minha foi o Jander Fagundes, de Uruguaiana, que na época era porteiro do Colégio Sant’Anta, onde eu estudava e volta e meia chegava atrasado. Então tinha que esperar o segundo período e ficava proseando com o Jander. É meu grande amigo e parceiro musical até hoje. Depois fui cursar Direito em Santa Maria, onde me encontrei com o Túlio Urach, conhecido e até a  pouco  desafeto de Uruguaiana, por rivalidades colegiais, e hoje dos melhores amigos que somei na vida. Eu e o Túlio começamos a compor pra o nosso consumo, mas nunca tivemos a intenção de divulgar o que criávamos. Nunca pensamos em gravar, muito menos de participar de festivais. Era a composição no seu modo mais despretensioso e desapegado. Naquela época fundamos a Sociedade Lítero-Musical Nativista Estrogonofe de Charque, que ainda está ativa, e após cerca de 25 anos de existência, possui um rol de integrantes convicto e imutável: o Túlio e eu. E assim foram anos de muito violão e verso pela velha Santa Maria. O violão por conta do Túlio, esclareça-se. Arranho um violão canhoto, mas sei meu lugar.
Uma certa noite, lá por abril de 1993,  chegamos eu e o Túlio, mais uns amigos em um bar santa-mariense chamado Boca de Monte, e tinha uma dupla tocando. Um cabeludo e um cara de óculos. O cabeludo cantava e tocava e o outro acompanhava, ambos no violão. Repertório versátil, entre MPB e muito nativismo. Realmente cativante. Ali ficamos, remando em uma ou duas cervejas e biqueando uma canha com fanta que escondemos debaixo da mesa, que a sede era grande e os pilas curtos. Normal da vida universitária. Num determinado momento eles fizeram um intervalo e sentaram ao nosso lado. Resolvi elogiar a dupla, que realmente era excelente, e aí a prosa fluiu. O cabeludo era o Erlon Péricles e o de óculos o Aldrim Prates.  Já tinha ouvido falar no Érlon, que, apesar de estar começando no meio nativista, já tinha emplacado algumas composições do meu agrado e conhecimento. Como houve empatia, o Érlon me convidou pra tomar um mate na casa dele e levar uns versos pra mostrar. Eu era tão despreocupado com música na época, apesar das composições com o Túlio, que de quatro pastas de versos, só meia dúzia possuíam forma propícia para musicar. O Érlon gostou de alguns versos e fechamos a parceria. Ele musicou algumas letras e gravou. Acreditou no que eu escrevia. Acreditou em mim. Me apresentou muita gente boa. Dizia que eu era poeta e que estava começando a compor para os festivais. Muitos me receberam muito bem e alguns perguntavam: Quantas músicas tu tens gravada? Eu ficava pensando: - Bah, qual é a parte do “está começando” que eles não entenderam? Mandei as músicas vários meses sem classificar nas triagens, até que em dezembro de 1993 classifiquei uma composição com o Érlon na 5ª Vertente de Piratini. Como ele estava tocando em Florianópolis na época, convidamos o Angelo Franco pra cantar. O Angelo eu havia conhecido antes de toda essa função, pois era amigo do Túlio, dos tempos eu que ambos moravam em Santiago. Chegamos ao festival no auge da nossa inocência e desconhecimento de causa. Era pra ser o Angelo mais dois violões. O Angelo chegou com apenas um violonista, o Luizinho Soares, pois o outro tinha quebrado a mão na véspera. E era o violonista solo! Então, através do Joca Martins, que havia sido recomendado pelo Érlon caso eu me apertasse, o Guilherme Collares assumiu a bronca no dia. O Angelo cantou muito bem e os guitarreiros se viraram nos trinta, mas não tínhamos condições de ir pra final, o que acabou se confirmando. Mas ali foi o passo inicial. Conheci o Joca, o Collares,  Cristiano Quevedo, o Mauro Marques, hoje dos meus maiores parceiros. Fiquei mais alguns meses sem classificar, até que no segundo semestre de 1994 passei duas composições com o Érlon do 1º Círio de Pelotas. Uma o Érlon cantou e a outra ficou a cargo da Juliana Spanevello, sempre talentosa, no alto dos seus 13 anos. A composição que a Juliana cantava passou pra final, sendo meu primeiro registro fonográfico. De lá pra cá foram muitos anos de aprendizado, aprimoramento, erros, acertos mas principalmente de muitos amigos se acolherando pelas veredas da arte, tanto na música quanto na poesia declamada.
De tudo isso ficou uma lição definitiva, que levo pra vida e procuro exercer cotidianamente: Ninguém é melhor que ninguém, ninguém nasce com currículo e todos têm direito a respeito, consideração e oportunidade.

De Paysano, Para Paysano: O que sente, quando as pessoas cantam as tuas músicas?

Carlos Omar Villela Gomes: Com relação aos parceiros, cantores, declamadores e púbico, emoção e gratidão são as palavras-chave.

De Paysano, Para Paysano: Com quem escreveria um verso? Musicada, por quem?
Carlos Omar Villela Gomes: Tenho grande admiração por vários poetas, e já fiz várias parcerias de versos, mas por afinidade, antiguidade e merecimento, sem dúvida tem um quarteto fundamental na minha estrada: Túlio Urach, Paulo Righi, Juca Moraes e meu amor Bianca Bergmam.
Agora, pra musicar, Érlon Péricles, Angelo Franco, Nilton Ferreira,Tuny Brum, Piero Ereno, Jean Kirchoff, Pirisca Grecco, Mauro Marques, João Bosco Ayala, Pedro Guerra, Geraldo Trindade, Marcelo Oliveira... Falo dos mais constantes. Com certeza, mesmo assim, estou esquecendo de gente inesquecível.
De Paysano, Para Paysano: Qual a tua rotina?
Carlos Omar Villela Gomes: Divido o tempo entre a família, a advocacia e a poesia. Muitas vezes tenho que pegar a estrada, por questões profissionais e artísticas. Quando fico por casa, tenho um dia a dia simples e encontro a felicidade nos pequenos prazeres, que forjam grandes riquezas. Em Jaguari isso se demonstra da forma mais singela. Tomar um vinhozinho de colônia com a Bianca, na beira da lareira; brincar com meus filhos; ligar pra minha mãe; Uns mates pela manhã; Um cafezinho servido pela Bi depois do almoço; fazer festa com as cusquinhas e o gato; Escrever uns versos; ouvir música; assistir a um jogo qualquer na casa do João Ari Ferreira, na nossa já tradicional Arena Mista, que nada mais é que a sala de TV dele; Filar uma bóia no Nilton Ferreira e na Rita. Receber e visitar amigos de fé. Enfim, pequenos momentos que tecem um mosaico imenso de felicidade na alma.

De Paysano, Para Paysano: O momento em que os versos nascem, momento que te inspira?
Carlos Omar Villela Gomes: Isso os versos decidem. Na maioria das vezes me considero um mero instrumento de repasse. Com o tempo a gente aprende a desenvolver letras e poemas de forma pensada, mas o grande e verdadeiro processo de criação é espiritual. Não tem hora nem local. Simplesmente acontece.

De Paysano, Para Paysano: Pra quem está começando, qual é a dica?

Carlos Omar Villela Gomes: Ler muito, ouvi muito, sentir, viver e criar. A inspiração está no mundo e o crescimento está na vida e no tempo. Somos eternos aprendizes. É chavão, mas é real. Antes de criticar exercitem a autocrítica. Deixem a alma fluir sempre, mas procurem nutri-la com capacidade e conhecimento. E, principalmente, entendam que a mensagem e a capacidade de sensibilizar as pessoas valem mais que qualquer troféu ou premiação. Tenham sempre em mente que a nossa cultura, ideias e valores são infinitamente maiores que o nosso umbigo, que o nosso tempo e que o real grande prêmio é contribuir com a construção de uma humanidade realmente mais humana. As portas do nosso rancho sempre estão abertas para os novos irmãos de arte.

De Paysano, Para Paysano: Falar um pouco do seu ultimo trabalho.

Carlos Omar Villela Gomes: Meu último trabalho lançado é o livro “OS DEZ MIL POETAS”, um resumo do que fiz na poesia e na musica nesses vinte e tantos anos de estrada. Ele foi integralmente patrocinado pela Secretaria do Estado da Cultura do RS, através do FAC(Fundo de Apoio à Cultura), com produção cultural do meu amor Bianca Bergmam, ilustrações do grande Sílvio Genro e arte final e diagramação do poeta e jornalista Shaka Guerreiro. Como todos são versejadores, a simbiose foi maravilhosa e o resultado final ficou muito além das minhas expectativas.

De Paysano, Para Paysano: Sobre o que não foi perguntado, gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Carlos Omar Villela Gomes: Quero agradecer imensamente a ti e à tua generosidade ao me convidar pra esta prosa. Através desta página poder
emos conhecer um pouco mais sobre os nossos companheiros de estrada e sina. Se me estendi muito é porque realmente as tuas indagações me levaram a viajar no tempo e a reencontrar nos porões e sótãos da alma a essência do que sou e os retratos do que fui. Viagem buena, que valeu à pena, que atiçou o braseiro do passado, mas que me fez ter mais confiança e certeza no fogueiral do presente. Beijão a ti, meu irmão Rafael, e a todos que compartilharem conosco estas extensas e sinceras linhas.


Lembramos, que nossa próxima prosa será com o cantor Jader Leal.


Abraços!

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